Hamilton - o musical da Broadway que virou um fenomeno cultural

Produção mistura hip-hop, rap e um elenco multiétnico para contar a história da fundação dos EUA.


Vinicius Serrão

24.07.2021
Cena do musical ‘Hamilton’. Créditos: Joan Marcus

Se você é um usuário ativo do Twitter, deve ter reparado que Hamilton tem sido um dos assuntos mais comentados nos últimos meses. Com a chegada do Disney+ ao Brasil em novembro de 2020, três meses depois, enfim, a peça ganhou legendas em português, podendo finalmente o público brasileiro assistir o musical da Broadway no conforto de casa.

A peça acompanha a história de Alexander Hamilton, um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos, interpretado pelo ator e compositor Lin-Manuel Miranda, inspirada na biografia de Alexander Hamilton (1755-1804) lançada por Ron Chernow em 2004. Hamilton foi o primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos que influenciou as bases do capitalismo no país, e hoje tem seu rosto estampado nas cédulas de 10 dólares.

Essa história foi reformulada para uma adaptação nada convencional no teatro musical: uma inovadora mistura de rap, jazz, R&B e música pop, junto com um elenco multiétnico, conta como foi a fundação dos Estados Unidos por jovens revolucionários e rebeldes que buscavam a independência do país em relação à Grã-Bretanha. Tudo isso cantado do início ao fim em 2 horas e 40 minutos de duração. O musical tornou-se um fenômeno midiático que, não só lançou Lin-Manuel Miranda ao estrelato como ator e compositor, mas também venceu 11 Tony Awards, o Oscar do teatro, além de conquistar o Prêmio Pulitzer de Drama e um Grammy na categoria de Melhor Álbum de Teatro Musical.

Os primeiros passos

Fenômeno desde o início, o musical começou sua trajetória de sucesso com uma performance viral de Lin-Manuel Miranda, criador, compositor e ator principal do espetáculo, no White House Poetry Jam, um evento cultural na Casa Branca. Em 2009 o ex-presidente Barack Obama convidou Miranda para se apresentar e foi um dos primeiros grandes apoiadores do projeto.

“Estou empolgado por ter sido chamado pela Casa Branca nesta noite”, declarou um nervoso Miranda, “porque, na verdade, estou trabalhando em um álbum conceitual sobre a vida de alguém que acho que incorpora o hip-hop: o Secretário do Tesouro Alexander Hamilton”. Michelle e Barack Obama riem juntos com a plateia, mas Miranda estava falando sério. Anos depois, com o sucesso do musical, o casal perguntaria inúmeras vezes em tom de brincadeira: quem está rindo agora? Lin-Manuel parecia determinado o suficiente para tornar o show uma experiência única.

Quando "Hamilton" foi lançado, os tempos eram outros. A narrativa de Miranda, que tem raízes porto-riquenhas, sobre a vida de Hamilton, um imigrante, é reflexo de seu conceito sobre os ideais norte-americanos: muito trabalho, determinação e inclusão. E isso se traduz no slogan que foi usado como propaganda do musical: "Esta é a história da América do passado, contada pela América de agora". O clima político, a relação dos imigrantes com a América, o entendimento sobre a democracia, o próprio significado de patriotismo mudaram e a história do musical, tão celebrada por gerar identidade, passou a servir como uma rica fonte de mensagens de protesto. A influência de "Hamilton" reproduzida pelo público em forma de protesto, mostra o sinal de fenômeno cultural incomparável.

A Disney não fala abertamente sobre os números de audiência, mas de acordo com a revista "Variety", no final de semana da estreia de "Hamilton", o aplicativo Disney Plus foi baixado 266 mil vezes nos Estados Unidos, um aumento de 72,4% na média de downloads em relação aos finais de semana anteriores. O álbum da trilha sonora, "Hamilton: An American Musical", com 46 faixas, já vendeu quase 2 milhões de cópias nos EUA, segundo dados da Billboard.

Pôster de divulgação no Disney+

Hamilton

Disponível no catálogo da Disney+

Alexander Hamilton, biografia escrita por Ron Chernow. Editora Intrínseca, 896 páginas, R$ 99,90 (livro físico) e R$ 69,90 (e-book).

Revisão ortográfica: Sonia Okita

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