Cássio Scapin - do teatro para a televisão

Ator e dramaturgo Cássio Scapin fala sobre carreira e próximos projetos


Indira Rodrigues

06.08.2021
Cássio Scapin. Foto Divulgação

Entre raios e trovões descobrimos, por meio da TV Cultura em 1994, um castelo mágico repleto de personagens lúdicos, com muita travessura e entretenimento em torno de um aprendiz de feiticeiro. Com seu jeito espevitado, Nino Stradivarius II, ou simplesmente Nino, faz os amigos se aventurarem num mundo de magia e diversão. Sabendo do carinho do público e do reconhecimento pelo seriado infantil, Cássio Scapin já levou o personagem da televisão para o teatro três vezes. A primeira apresentação, no auge do Castelo Rá-Tim-Bum, foi nos anos 1990, quando fizeram uma apresentação em um estádio de futebol; depois, em 2001, foi lançado o musical “Teatro Castelo Rá-Tim-Bum: Onde Está o Nino? ”. Em 2017, para celebrar seus 36 anos de carreira, Cássio trouxe uma nova releitura, “Admirável Nino Novo”, com a participação da voz de Ney Matogrosso como o personagem Espírito da Aventura. Curiosamente, o Castelo Rá-Tim-Bum teve apenas 92 episódios, que abordam assuntos de cunho educativo. Cássio Scapin, diretor, produtor e intérprete de Nino, conta como se deu sua carreira como ator.

CeR - Pelo que pesquisei, você já tinha contato com o teatro antes de atuar na televisão?

CS - Muito, muito. Me formei na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Já tinha viajado à Europa, trabalhado e estudado por lá. Aí eu voltei, já estava fazendo um espetáculo chamado “Tamara”. Na verdade, o Cao Hamburger foi assistir e me convidou para fazer o teste, fui fazer o teste e aí foi [risos].

CeR - Foi difícil o teste?

CS - Não. Foi uma delícia, na verdade. Foi um teste supertranquilo, saí meio convicto de que eu tinha pegado o personagem. Falei: “Ah, que bom, senti que peguei! ” Passou uma semana, passaram 10 dias, ninguém ligou. Pensei: “Ih! Não peguei, dançou...”. Aí, de repente, ligaram: “Você está aprovado. A gente vai começar a fazer um trabalho aqui de conhecimento com as crianças, de interação, e você começa a vir”. E pronto, fui contratado.

CeR - Voltando ao teatro: você acha que conquistou o teatro ou o teatro foi conquistado por você?

CS - Eu acho que os dois. Nenhum dos dois conquistou; é tudo uma coisa só. Eu sempre quis ser ator, eu nunca quis ter outra profissão. Eu não quis fazer outra coisa. Então, eu não sei. Eu me encontrei na vida no teatro. Nunca teve outra coisa que gostaria de fazer.

CeR - Qual personagem você gostaria de interpretar?

CS - Ih! Tantas, tantas coisas que gostaria de fazer. Gostaria de ter feito mais Shakespeare, que fiz pouco. Gostaria de fazer Molière, que fiz pouco. Tem tantos autores... eu acho que eu não tenho aquela coisa de fazer determinado personagem. Ter um personagem que eu gosto: “Ah! Não quero fazer este personagem”. Eu não tenho. Eu gosto do que vem pela frente sempre. Acho que é por isso que dá certo. Eu pego tudo com muito gosto!

CeR - Está preparando alguma coisa para comemorar seus 40 anos de carreira?

CS - Neste momento, a gente está preparando a retomada da vida. Após sair deste período de quarentena, ninguém sabe o que vai acontecer. A gente não sabe, inclusive, que caminhos a política brasileira vai tomar. Qual será a possibilidade que fornecida pelo governo às ações culturais. Porque, até agora, o que a gente tem visto é uma ação objetiva do governo de esvaziar tudo que é ação cultural e intelectual, educacional. Então, a gente não sabe. A programação imediata é que a carreira tenha 45, 50 e 60 anos. Essa é programação imediata.

CeR - Nesse período de quarentena, eu vi que você apresentou uma performance on-line, “Eu Não Dava Praquilo”. Como foi essa experiência?

CS - O “Eu Não Dava Praquilo” era um espetáculo pronto. Tinha sido premiado, tinha ganhado o APCA, foi indicado para o prêmio Shell. E quando surgiu essa questão da pandemia, do teatro on-line, com o Sesc ao Vivo, me convidaram para fazer. Também fiz “Os Malefícios do Fumo”, pra Vivo. Também uma apresentação que está guardadinha, quem sabe a gente volte mais uma vez em uma versão on-line. Claro, a gente tem projetos inscritos no Banco do Brasil, tem projeto inscrito na Lei Rouanet. Tem vários projetos, mas tudo depende do andamento que vai ser dado à cultura.

CeR - Você é um ator que sempre está em algum projeto, como a participação no programa “Detetives do Prédio Azul (DPA)”, a campanha na luta contra a Covid-19 com outros ex-integrantes do Castelo e outros projetos para a web. Como estão seus trabalhos durante este período de isolamento social?

CS - Tem outras coisas: acabei de fazer um longa que se chama “Alice na Internet”. Deve ser lançado no final deste ano. A gente fez nesse sistema de pandemia, sem poder contracenar com outros atores, em um estúdio de chroma key. Tem uma campanha que vai entrar no ar que se chama “Não Mexe Comigo”. É uma campanha contra abuso infantil. Fiz o urso Kim, que também é uma campanha contra violência infantil na rua, na quarentena. Então, tem bastante coisa que ainda estamos fazendo.

CeR - Conta sobre a série que você está escrevendo. Alguma previsão de lançamento?

CS - Ah! A série que estou escrevendo. Pois é, tem uma possibilidade aí, a série está um pouquinho parada. Eu tive que parar para fazer os projetos para essas diversas leis. Eu fico brincando que vai ser uma série de época. É uma série que depende de contato, depende de relação, depende de as pessoas se encontrarem. Uma série afetiva, uma série amorosa. Então, você depende dos encontros e a gente está esperando como vai ficar para ver como vai estabelecer, se a gente vai continuar com isso ou não.

Acreditando e apostando suas fichas na profissão que sempre almejou para si, ele teve a certeza de que tinha sido aprovado no teste para interpretar o Nino. E acertou. Ficou com o papel. E esse não foi o único: seu talento fez Cássio construir um belo currículo, com mais de 60 personagens interpretados entre televisão e teatro.


Revisão ortográfica: Bernadete Siqueira

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