Panorama da Música Brasileira do século XX

Os Cariocas

por Bernadete Siqueira

28.01.2021

O panorama do conjunto Os Cariocas

Como o título desta matéria sugere, a palavra panorama é poder se colocar em um ponto central e observar do alto; no caso da música é permitir que ela nos conte a história de um tempo. E através do som podemos reencontrar nossa própria história.

Partindo desse ponto vamos ouvir o que inúmeros talentos da música popular brasileira do século XX nos deixaram tanto para refletirmos como essas músicas foram no passado, como nos emocionam no presente e como iremos deixá-las para gerações futuras.

Sim, para futuras gerações! A música não morre.

Hoje, o Cidadão e Repórter prossegue seu Panorama da Música Brasileira no século XX com Os Cariocas.

O conjunto nasceu na varanda da casa de dois irmãos, Ismael Netto violonista, 2ª voz e tan tan, e Severino Filho, 3ª voz e viola tenor, ainda com 16 e 14 anos, respectivamente, cujo repertório foi a música popular brasileira.

Os Cariocas iniciam com um diferencial criado por Ismael Netto, que inovou, inserindo pela primeira vez na história de vocais no mundo, uma voz em falsete e justamente essa formação, com tanta ousadia e arrojo, trouxe ao grupo uma modernidade até então nunca apresentada, garantindo, portanto, um sucesso imediato.

Ismael Netto passa a compor. Severino Filho se forma maestro, em 1948. Funda duas orquestras, ”Severino Filho, Metais e Vozes”, com repertório jazzístico e ”Pan American”, de sambas e frevos, atingindo também enorme sucesso. Os Cariocas nesse momento contavam com sua 2ª formação de cinco vozes.

Em 1954, gravaram a Sinfonia do Rio de Janeiro a convite do jovem maestro Antonio Carlos Jobim, na mesma época conheceram o violonista e cantor, João Gilberto.

Em 1956, com arranjo de Ismael e Severino, música de Tom Jobim e violão de João Gilberto, com sua batida única, o conjunto faz a primeira gravação de Chega de Saudade. Nascia um novo ritmo e uma nova revolução musical no Brasil, a bossa nova. E nesse mesmo ano Ismael Netto morreu aos 30 anos de idade.

A formação do conjunto passa a contar até 1959 com a irmã da dupla fundadora, Hortênsia Jassè. O grupo chega ao sucesso internacional cantando não só nos países da América do Sul, como América Central e do Norte.

Em Nova York são apresentados a Quincy Jones que se encanta com o grupo e eles são introduzidos no meio cultural americano. Paralelamente no Brasil, a ditadura se instala e sendo Severino um homem de esquerda, se abate e termina com o conjunto no auge do sucesso. Foram 20 anos sem Os Cariocas, e foi quando a bossa nova experimentou sua época de total esquecimento até que em 1988, com a democracia de volta, Severino retoma com o conjunto e com a mesma 5ª formação, até a morte de Luiz Roberto em 1988 no show de reestreia.

O grupo passou por nove formações até sua extinção, em 2016, quando o maestro Severino Filho faleceu em 1º de março.


Revisão ortográfica: Geyse Tavares

Trabalho elaborado pelo músico Chuim (Luiz Carlos de Siqueira), baterista, percussionista, professor, compositor, autor, produtor musical e estudioso da história da música brasileira.

Iniciou sua carreira como músico aos 15 anos e fez parte de vários conjuntos musicais. Estudou música erudita, gravou uma série de programas para Rádio Eldorado e TV Cultura.

Fez temporada nos Estados Unidos, França e Dinamarca. Foi professor na Unicamp-SP, na St. Paul Escola Britânica-SP e St. Francis International College-SP.

Atualmente desenvolve o projeto Samba-Jazz, atua no “Chuim Quarteto” e na “Orquestra Cadência Brasileira”.

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Chuim deixa seus agradecimentos a José Roberto Rocco que fez a edição musical e a Edgard Garcia do Estúdio E que cedeu gentilmente o estúdio para as gravações deste projeto.