Maestro João Rocha e o concerto em homenagem ao Mês da Consciência Negra


Sinfonietta Concertante, título da obra composta pelo maestro a pedido da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP), em homenagem aos compositores e compositoras negros, eruditos e populares, parte da história da música do Brasil.


Cleo Brito

20.11.2021

Consciência negra é um termo que ganhou notoriedade na década de 1970, no Brasil, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial. A data de 20 de novembro representa um espaço de reflexões sobre o combate ao racismo e todas as formas de exploração, sobretudo, nos espaços educativos. O termo é uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, um símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior.

Temos a honra de apresentar a superioridade do respeitadíssimo João Rocha, brasileiro, 38 anos, mestre em música, título este concedido pelo College-Conservatory of Music Cincinnati (CCM.

João Carlos Rocha de Oliveira

Fundador e maestro principal da Oxford Chamber Ensemble (OCE), orquestra de câmera que tem sua primeira temporada programada para Agosto do próximo ano. No currículo, ele conta com prêmios internacionais, como o prêmio “Eleazar de Carvalho para jovens solistas e regentes” em suas edições regional e nacional (2012). João foi semifinalista do concurso de compositores “Maurice Ravel”, em Bérgamo, na Itália, com a obra, "Post Mortem", assim como recebeu a menção honrosa do " I Panorama da Música Brasileira" por sua "Deliriamentos...sobre um tema de Guinga". João também foi finalista do Concurso Internacional de Regência Smoky Mountains, nos EUA, em 2019.

O primeiro instrumento de Rocha foi o cavaquinho. De tal modo, que os primeiros passos dentro do universo da Música se deram através da música popular. Mais especificamente o samba e o choro. Paradoxalmente, estuda cavaquinho em um conservatório e aprende o repertório "clássico" através daquele instrumento, o que lhe dá condição de desenvolver um trabalho eclético e inovador.

Em 2014, quando recebeu o prêmio de honra do Panorama da Música Brasileira, Rocha se mudou para Leipzig, na Alemanha, após receber bolsa de estudos oferecida pelo DAAD (Serviço de Intercâmbio Estudantil Alemão), onde morou até 2016.

A obra premiada chama-se "Deliriamentos...sobre um tema de Guinga". A obra é baseada em uma ideia surreal em que Brahms e Guinga tomariam um chopp nas areias do Leblon - O Guinga não bebe. O Brahms bebia. O próprio Guinga tem conhecimento da obra.

A obra estreia no Brasil em 2014 sob a batuta do maestro Ernani Aguiar. Teve a sua estreia nos EUA em seu primeiro concerto à frente da Orquestra Sinfônica da Universidade do Kentucky em 2018.

Artista multifacetado que se destaca para além da regência. Rocha, junto à Paula Gândara, é o pianista e diretor artístico do "Duo Rocha Gândara", que se apresenta regularmente nos Estados Unidos e, em 2019, fez sua primeira mini-tour pela Europa, realizando shows por países como Portugal e República Tcheca.

Mestre em música pelo College-Conservatory of Music Cincinnati e está a um semestre de se graduar como doutor em regência orquestral pela Universidade do Kentucky, Rocha foi o regente assistente da orquestra sinfônica desta última instituição. Em tal oportunidade, João regeu em salas como o Carnegie Hall em Nova York, e participou de projetos nos quais pode colaborar com artistas e grupos como o Quinteto de Sopro da Orquestra Filarmônica de Berlin e Gil Shaham. Em 2016 mudou-se para os EUA após receber uma bolsa de estudos integral na Universidade de Cincinnati, no Ohio, estado onde vive atualmente.

Em sua formação, esteve sob a orientação de maestros brasileiros, como Eduardo Ostergren, Abel Rocha, Roberto Tibiriçá, Isaac Karabtchevsky e Fabio Mechetti, e estrangeiros, como o alemão Nicolás Pasquet, o inglês Neil Thomson e os americanos Mark Gibson e Marin Alsop.

Em 2020 cria uma série de vídeos onde realiza releituras de sambas que ouviu ao longo de sua infância. Arranjos estes que refletem em sua formação clássica.

O maestro, compositor e arranjador brasileiro, radicado nos EUA, João Rocha, recebera uma encomenda da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP) para criar obra em homenagem aos compositores e compositoras negros, eruditos e populares, parte da história da música do Brasil. A Sinfonietta Concertante foi composta em apenas quatro dias, entre 23 e 27 de agosto e o concerto aconteceu em 12 de novembro de 2021, sob a batuta da maestrina Alba Bomfim - mulher, negra, brasileira, celebrando o Mês da Consciência Negra.

“Por mais que os elementos técnicos, por assim dizer, tenham sido cuidadosamente planejados e aplicados, essa obra acabou por ser criada num espírito de “grito de revolta”. A Sinfonietta, mais especificamente, se propõe a celebrar e levar à reflexão acerca da memória dos tantos artistas negros brasileiros, estes, gigantes do passado e do presente que se mantiveram e se mantêm “vivos” apesar dos pesares. Do mesmo modo, tal “grito” se dá através de uma música que representa a resiliência e a força da população negra do Brasil” - João Rocha.

Entre os trabalhos homenageados estão obras de Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Cartola, Dorival Caymmi, Mateus Aleluia, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Candeia e outros.

A obra já está sendo considerada para a temporada 2022/2023 de algumas orquestras.

"Procuro trabalhar para que as atividades às quais me dedico - regência, composição, arranjo, performance etc possibilitem uma porta de entrada ao universo da Música (sinfônica ou não) às pessoas que não o fazem simplesmente por não se “sentirem pertencentes” ou “ignorantes”. Eu gostaria de desenvolver projetos e iniciativas que, geralmente, pudessem ajudar a fazer com que a barreira que ainda separa muitos membros da nossa sociedade da alegria e da satisfação gerados pelo contato com a Música possa ser rompida. Acredito que todos possam tirar benefícios do envolvimento com um tipo de produção cultural que não necessariamente tenha sido criada exclusivamente para fins de entretenimento. Em minha opinião, a arte da Música (clássica ou não) deve ser acessível a todos" - João Rocha.

Redes sociais do Maestro João Rocha:

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Assista o video "Deliriamentos...sobre um tema de Guinga"

Revisão: Anne Preste


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