Espiritualidade em tempos de COVID-19

por Vera Bifulco

14.04.2020

Por que falar de espiritualidade em tempos de pandemia?

Garanto que há muitas razões para ser este um tema mais que nunca de importância imperiosa.

Primeiro vale destacar o conceito de espiritualidade. Quero ressaltar que existem muitos conceitos para definir o termo, selecionei apenas um: “Espiritualidade é a busca pessoal pelo entendimento de respostas a questões sobre a vida, seu significado e relações com o sagrado e o transcendente, que pode ou não estar relacionada a propostas de uma determinada religião” (Harold Koenig et al, 2001).

Por essa definição já podemos perceber que espiritualidade não tem nada a ver com religiosidade, ela pode existir independentemente de uma religião adotada. Tenho por mim que, quando a espiritualidade vem dentro de uma religião escolhida por determinada pessoa, ela ajuda e explico o porquê.

Quem adota uma religião, acredito eu, a adota porque sente uma afinidade em seus postulados e também porque a pratica, estuda, se aprofunda e segue seus rituais.

Quem se diz de tal religião, mas não a pratica nem a estuda, entendo ser somente de boca para fora, essa pessoa não tem uma religião formal, ela se esconde atrás de uma nomenclatura, o que para a discussão em questão não tem mérito.

A espiritualidade é fator protetor para a maioria das doenças, não somente em tempos de pandemia, pois entende que toda doença tem uma proposta educacional. Quem exercita sua espiritualidade, se questiona, pois ela busca um sentido para a vida e suas intempéries, para tudo que venha a acontecer na vida. Ela empresta um sentido para o processo de adoecimento porque entende que em tudo na vida há um porque, mesmo que para esse porque no momento não se consiga encontrar uma resposta imediata.

A espiritualidade é um exercício diário e não somente ocasional.

Quem pratica rotineiramente sua espiritualidade tende a cuidar de seu corpo, morada de sua alma, e se torna fator destarte de autocuidado.

Vejamos a pandemia pelo coronavírus, metaforicamente, um inimigo invisível, sem tratamento efetivo senão o suporte clínico/observacional onde a proteção efetiva, além do distanciamento social, é o aumento da imunidade de cada pessoa.

A pandemia causa o maior dos medos, que é justamente o medo da morte, e o que costuma acontecer quando uma pessoa tem muito medo, além de prejudicar seu cognitivo — pois seu raciocínio fica comprometido pelo pavor iminente de um contágio —, seu sistema imunológico fica abalado, justamente o sistema de defesa, a opção que pode dar o suporte necessário para uma melhor proteção contra o vírus.

A espiritualidade afeta positivamente o sistema imunológico que é o único “remédio” de que dispomos.

A pessoa que cultiva sua espiritualidade tem uma postura mais positiva frente à vida, costuma praticar a oração diária, mantém seus pensamentos otimistas e suas ações condizem com sua postura mental.

A mente possui incalculável poder sobre o nosso campo emotivo e, assim como podemos materializar ideias de doença, também podemos criar ideias de saúde e mantê-las.

Não que pessoas espiritualizadas não fiquem doentes, ou mesmo que somente a espiritualidade imunize contra o Covid-19 ou qualquer outro vírus, mas ela ajuda a criar uma barreira de energia positiva que pode mitigar a ação inimiga.

Estudos científicos já provaram que a espiritualidade imprime uma resposta mais assertiva frente a tratamentos propostos e também frente à vida, pois conduz a uma vida com mais sentido.

“Somos pequenos grãos de areia nesse universo imenso, dentro de um planeta que ainda conserva uma pequenez de consciência, mas, mesmo como grãos de areia, somos à semelhança de Deus, capazes de fazer acontecer o inédito, o transformador para o bem ou para o mal. A meta é uma vida plena de significado, mas o caminho até chegar a sua finalização traz muitas surpresas e é nele que se encontra o sagrado.”

Bifulco V.A e Caponero R. – Cuidados Paliativos – Conversas sobre a vida e a morte na saúde, 2016.


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Pesquisa de imagem: Eduardo Mendes
Revisão: Maitê Ribeiro