Como cuidar do idoso na pandemia

por Vera Bifulco

20.08.2020

Não se trata de colocarmos os idosos numa faixa etária preconceituosa, nem mesmo achar que somente os velhos são os mais vulneráveis a contrair o vírus da Covid-19, mas temos de entender primeiramente que velho, em países subdesenvolvidos, são pessoas a partir dos 60 anos de idade; em países desenvolvidos essa idade passa a contar a partir dos 65 anos. E não é só isso, dentro do envelhecimento, os idosos são subdivididos em três categorias: o jovem velho, dos 60 aos 69 anos, o velho, dos 70 aos 79 anos, e o velho-velho, ou como os ingleses chamam – old-old, dos 80 anos em diante.

Cada categoria vai apresentar características diferentes e, portanto, a generalização é um erro.

Cada caso é um caso, há velhos e velhos, assim como em qualquer outra faixa etária.

Mas uma coisa é certa, com o passar dos anos, doenças próprias do envelhecimento são mais comuns de surgir, e isso não é errado, é da natureza humana. Ligado a esse fato há o histórico de vida de cada um, somos a somatória de tudo o que já fomos. É comum o velho apresentar uma ou mais comorbidades. Comum, não obrigatório.

O estilo de vida pregresso vai configurar numa velhice melhor ou pior. Cada um envelhece, adoece e morre como viveu, ninguém muda radicalmente porque ficou velho, ou doente ou está em vias de deixar esse mundo; levamos características de nossa personalidade em cada fase de nosso desenvolvimento.

Durante esse período de pandemia, é o velho merecedor de um cuidado, de uma atenção diferenciada.

Vamos pensar que nosso país tem um território geográfico imenso, há muitos Brasis dentro dele e a pandemia só intensificou, alardeou o que antes empurrávamos para debaixo do tapete, nossa desigualdade social gritante. Assim, há velhos que moram em situação de precariedade, e velhos que fazem seu check up anual, possuem convênios top e têm uma retaguarda médico/social que lhes permite uma situação bem mais confortável.

Se pensarmos no número de mortes já ocorridos por conta do Covid-19, vamos ver que esta é uma situação de guerra. É um número assustador.

O velho é mais fragilizado, sua chance de ficar infectado é maior, não por ele sozinho, mas por quem com ele convive, visitas, familiares, cuidadores, isso é fato. Portanto, todas as atividades externas devem ser suspensas. Missas, shopping, hidroginástica, entre outras.

Em vez de ir até o consultório médico por exemplo, ver a possibilidade de o médico ir até a casa do paciente. Este profissional está mais bem preparado para tomar medidas de higienização seguras.

A fisioterapia, tão essencial para o restabelecimento funcional do idoso, evitando quedas e melhorando o equilíbrio, assim como fonoaudiólogas que orientam e minimizam o risco de broncoaspiração, podem ser feitas em domicílio por profissionais da saúde gabaritados para isso, mesmo na rede SUS.

O pânico deve ser substituído pelo cumprimento dessas recomendações.

Orientar familiares que cuidam de idosos, quanto à ingestão de líquidos, higienização das mãos, mesmo em casa e a utilização de álcool gel são medidas necessárias que devem ser obedecidas e possíveis de serem efetuadas indiscriminadamente.

O número de cuidadores deve ser limitado para evitar a possibilidade de maior contágio, negociar um maior número de horas com volume menor de rendições, isso também vale para o rodízio entre os familiares, parentes ou amigos que dividem a tarefa de cuidar.

O uso da tecnologia, se possível, deve ser ampliado.

Idosos moradores de IPLs, Instituições de Longa Permanência, nesse período de distanciamento físico, mas não afetivo de seus familiares, podem e devem manter contato com sua família e amigos através de mídias como WhatsApp, Skype, entre outras.

Uma dica interessante para os familiares que possuem algum idoso em casas de repouso é presenteá-los com objetos que são do seu agrado. A presença física está proibida, mas os presentes não. Pode ser um doce, um salgado, uma flor, um jogo, um porta-retratos da família, revistas, jornais, objetos que lembram de sua história, que são referências, que imprimem sua visita sem sua presença física. Isso vale também para os que possuem doenças crônicas, degenerativas, ativas e progressivas como as demências. O objeto permite que ele se recorde, mesmo que por períodos pequenos, mas vale muito como recurso. Em tempos de CRISE, CRIATIVIDADE faz a diferença.

Lembrar que os idosos não costumam apresentar manifestações iguais aos dos jovens.

Febre, por exemplo, é atípica no velho, por vezes mudanças comportamentais são mais significativas, como agitação, mudanças de humor, insônia ou excesso de sono.

Mesmo em idosos mais ativos, hígidos, vale a recomendação. Toda e qualquer mudança deve ser considerada.

Viver mais e melhor depende de uma gama de fatores que o cuidado diário deve privilegiar.

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Revisão: Maitê Ribeiro