Conversa com Mulheres apresenta Mara Régia Di Perna

Radialista da rádio Amazônia, participante do projeto Viva Maria, da plataforma da 1ª Delegacia de Atendimento à Mulher e criadora do Conselho dos Direitos da Mulher.

Ela fez parte do evento Poder Concept "Conversa com Mulheres", realizado na semana que comemoramos o Dia Internacional da Mulher trazendo muitas histórias com muita leveza.

Bernadete Siqueira e Lala Evan

17.03.2021

Leva no seu nome a Régia - senhora absoluta -, sem que sua mãe conhecesse a Amazônia, e isso veio acrescentar à sua identidade e a sua história, mal sabia que ela faria parte da defesa desta terra com tanto amor.

Vinda de uma infância dolorosa, com histórico de um pai com o vício da bebida, que perdia seu senso de limites com agressões físicas tanto contra sua mãe como com ela também. Nos contou que um dia pensou "quando eu crescer vou fazer alguma coisa para que nenhuma mulher nunca mais tenha que apanhar nesta vida" e segundo ela, "os anjos disseram amém".

Sua jornada foi sempre pautada na proteção às mulheres e questões ambientais. Em 1992 fez parte da maior e mais diversa tenda do Fórum Planeta Fêmea, onde começou um trabalho mais fecundo com mulheres à frente do seu tempo e pensantes da ecologia, conhecida como a Terra de Chico Mendes.

Conta que em uma ocasião foi realizar uma reportagem para uma oficina de um projeto para evitar queimadas florestais, porém, se deparou com um "furo de reportagem" na cidade Lucas do Rio Verde - um avião tinha acabado de pulverizar toda a cidade, em vez de jogar o secante na mata em cima da soja “deixou” um galão aberto e acabou pulverizando a cidade toda. As mães que estavam no período de amamentação, que respiram aquele ar poluído e receberam uma cota daquele veneno, tiveram o leite materno contaminado. Assim como todas as plantas que ficaram esturricadas. Uma cena de se chorar, tudo ficou marrom.

Relata que as mulheres da floresta guardam em si um significado que só pode vir dos céus e da terra- mãe. Elas são tronco, são vitalidade, são força, tanto das águas como as mulheres marisqueiras. E que dívida incomensurável nós temos com essas guerreiras.

Aos trinta anos começou o projeto Viva Maria. Neste momento ela expressou um desejo "quero viver um pouco para ver as filhas dessas bravas guerreiras honrando a luta de todas elas. Vamos ver se passa o anjo novamente para dizer amém".

A jornada do Viva Maria completa 40 anos no próximo dia 14 de setembro. Participou também de uma plataforma para conquistar a primeira Delegacia de Atendimento à Mulher e em seguida criou o Conselho dos Direitos da Mulher, ambas no Distrito Federal e, assim, até a celebração do consórcio de mulheres incríveis que trabalham para a Lei Maria da Penha.

Tem uma marca no seu trabalho na defesa intransigente de todas as essas questões que marcaram a sua vida, e a cada mulher que consegue de uma forma direta ou indiretamente ajudar. Ao longo do projeto Viva Maria é jornalista AMIGA DA CRIANÇA, isto iniciou a partir de uma carta que recebeu de uma menina de 9 anos, que pedia socorro, pois havia sido vendida pela primeira vez pelo pai para um uruguaio e esse não pagou o pai dela e o pai foi e a resgatou e vendeu novamente a um bêbado e essa criança já estava caminhando para o terceiro casamento forçado e pago. E sua irmã de 11 anos estava a caminho da mesma história. Acionou o Conselho Tutelar e tirou o pátrio poder do pai.

Quanto ao feminismo, segundo ela, hoje tem um cenário completamente diferente, são muito os feminismos e são várias tendências. Nada sabia quando começou a pensar na luta daquelas mulheres que lá estavam, em Londres de 1975, que tinha a ver com a filosofia do feminismo e dali para frente começou a estudar o tema. Nos anos 80 tinha tudo a ser feito, até porque nós tínhamos a dívida para com muitas mulheres que pagaram um preço muito alto que foi o preço da tortura pela democracia brasileira. E mais ainda tinha as questões da saúde e as questões à luz do direito.

Analisa que estamos num momento decisivo para as mulheres do Brasil e os movimentos feministas por si só não dão conta. Exemplifica o caso Ângela Diniz- um crime emblemático, em plena época em que nós conseguimos a Lei do Feminicídio a mesma tese de defesa da honra continua a ser aplicada. E diz “eu sofro de impaciência histórica”.

Quando perguntado se estamos num processo evolutivo, ela menciona que visualiza avanços, pela própria Lei Maria da Penha. Às vezes está na lei e não está na vida. Porém, nós temos muitas mulheres, como comparar as que estão nos igarapés, que estão num espaço de grande isolamento? Como vencer aquele silêncio, as léguas. Os Brasis são muitos, o importante seria se tivesse uma Delegacia de Defesa da Mulher em cada região da Amazônia. Essas mulheres ficam exiladas.

E deixa uma mensagem: o importante é observar na fonte dos seus desejos, onde moram eles, o que quer fazer, onde está a força para mudar a sua vida. Mudanças querer muita disciplina, muito esforço. A partir daí tem que delimitar o horizonte sabendo de princípio que nada é impossível. Ter prontidão para os projetos engavetados, que estão negligenciados. Porque quando você diz que um dia fará isso ou aquilo um dia não existe no calendário. Tem que planejar! Olhe para o céu e mentalize o seu desejo e ardorosamente persiga-o até o fim dos seus dias, pode demorar muito ou pouco, mas um dia chegará lá. Abrindo sempre o caminho e não deixando de estudar.

Referências:

A Poder Concept, tem por objetivo ajudar mulheres e empresas a mudarem mindsets, seus pensamentos e inovarem suas atitudes; acreditamos em um mundo em que todos sejam capazes de seguir seus sonhos e realizá-los.

Os aspectos envolvidos na criação e operação serão de capacitação, assessoria e consultoria, que terá como foco inicial voltado para jornada empreendedora, preparando mulheres a serem consultoras para atenderem os clientes-alvo. Inicialmente serão empresas do setor privado; sendo micro, pequenos e médio portes, provendo conhecimento para que possam atuar como grandes geradores de novos empregos.

Revisão ortográfica: Geyse Tavares



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